Neste artigo, apresento o experimento inicial conduzido por Bruce Lipton na Universidade de Wisconsin. Os resultados desse experimento colocaram Bruce na vanguarda da pesquisa científica dentro da nova ciência da epigenética. Posteriormente, apresento o conceito de epigenética, com algumas referências históricas. Nossas crenças controlam nossa biologia. Por fim, menciono o aumento da popularidade da epigenética e deixo duas referências de leituras científicas.
Prestem atenção nestas chamadas de artigos: “Conheça as cinco doenças genéticas mais comuns”, “Fibrose cística é genética e mais comum na criança” e “Doenças genéticas e hereditárias: o que são?”. O que todas elas possuem em comum? Primordialmente, desde o surgimento dos resultados do Projeto Genoma, é cientificamente aceitável afirmar que muitas das doenças que temos são originárias da nossa hereditariedade genética, isto é, dos DNAs dos nossos antepassados.
Bruce Lipton e o experimento inicial
Nesse sentido que surge Bruce Lipton e a nova ciência da epigenética. Bruce é um biólogo do desenvolvimento, professor e cientista americano. Na Universidade de Wisconsin/EUA, ele desenvolveu um experimento inicial cujo o resultado é a base da nova ciência da epigenética. O experimento, denominado, “Células estaminais multipotenciais”, de 1967, e seus resultados consistiram basicamente no seguinte:
Remover o núcleo de uma célula uma vez que é justamente no núcleo que se encontra a maior parte dos DNAs (genes) de uma célula. Ele descobriu que a célula continua viva por mais 2 a 3 meses, sem alterar o seu comportamento, expressando comportamentos e funções complexas, mesmo sem o seu núcleo, isto é, mesmo sem o DNA e sua carga genética. Ele estava diante de um resultado surpreendente. Segundo o Projeto Genoma, era ponto comum afirmar que os genes controlam todos os aspectos da vida da célula, sendo equivalente ao cérebro da célula. Portanto, seria plausível afirmar: sem DNA sem vida. O que se descobriu, na verdade, foi o oposto.
Porém, ele não parou por aqui. Então, Bruce clonou células-tronco (estaminais). Ele separou uma única célula-tronco, que se equivale a uma célula embrionária, e a colocou em uma placa Petri. Essa célula única, colocada isoladamente na placa Petri, se multiplicava a cada 10-12h: primeiro uma, depois duas, então quatro e depois oito e dezesseis, assim em diante, até cerca de 50 mil células idênticas na mesma placa Petri após uma semana.
O próximo passo desse experimento inicial mudou dramaticamente o modo de pensar de Bruce. Com efeito, ele dividiu essas células em três placas Petri diferentes. E atenção: ele alterou o “meio de cultura” através de pequenas induções químicas nas placas. Isto é, ele causou ambientes diferentes para as células. Vamos lembrar: eram células exatamente idênticas, originárias da mesma célula embrionária. O conhecimento comum diria que elas se comportariam de maneira similar.
Entretanto, o que se testemunhou foi que as células se comportaram diferentemente em cada uma das placas. Em uma placa, as células formaram músculo; na outra, osso; e, na última, gordura. Eis a grande descoberta: o que controla o destino das células? A resposta passaria a ser… o ambiente, e não mais o DNA, a genética e a herança hereditária.
Insights que levaram ao nascimento da epigenética
No início da década de 1970, a comunidade científica estava firme na onda das pesquisas sobre o papel dos genes no controle da vida humana. Ele tentou chamar a atenção de alguns cientistas, expondo o seu método de investigação e dando credibilidade aos seus descobertos através da repetição do experimento. Em vão. Sendo uma voz solitária à época, a partir das descobertas marcantes das “Células estaminais multipotenciais”, apontando que o ambiente é fundamental para determinar o destino da célula, Bruce despertou para insights inovadores sobre como os sinais do ambiente controlam e modificam a expressão genética.
Esses insights o levaram a outros poucos cientistas que estavam trabalhando dentro de uma certa perspectiva denominada de epigenética. Inicialmente, o termo epigenética foi introduzido pelo embriologista escocês, Conrad Waddington, em 1942. Ele criou o termo com base no conceito de “epigênese”, do século XVII, para definir o complexo de processos de desenvolvimento entre o genótipo e o fenótipo. Então, em 1958, dezesseis anos após Waddington ter cunhado o termo pela primeira vez, David Nanney publicou um artigo no qual usou o termo epigenética para distinguir entre diferentes tipos de sistemas de controle celular (Veja o artigo What do you mean, “Epigenetics”? e o vídeo abaixo, para saber mais).
Já para Bruce, o termo alcançou um significado peculiar. Recorrendo ao grego antigo, “Epi” significa sobre ou acima. Portanto, “epigenético” significa a descrição de fatores além do código genético. Assim, epigenética é o estudo de como as células controlam a atividade gênica sem alterar a sequência de DNA. Para Bruce, esses fatores são claramente dados no e pelo ambiente. “Epigenética significa o estudo dos estímulos ambientais que controlam os genes”, afirma o biólogo e cientista americano.
Desse modo, o ser humano não é mais visto como uma vítima da sua hereditariedade. Em outras palavras, o que aconteceu e acontece com os nossos familiares não necessariamente irá acontecer com a gente. Pois, assumindo seriamente a posição da epigenética, o indivíduo passa a ter a noção de que é possível controlar o ambiente que controla o comportamento das células. Contudo, uma pergunta se torna o foco aqui: como esse controle sobre o ambiente pode ser exercido?
Crenças e o efeito do pensamento no corpo
O controle sobre o ambiente é exercido através da mudança de crenças, visões de mundo e atitudes. Notório é que essas mudanças na mente levam a mudanças químicas no sangue. Em última instância, é a química no sangue que afeta a nossa genética. Os genes, por sua vez, são como “plantas arquitetônicas” para produzir proteínas, estes, os tijolos do corpo. As proteínas determinam nossas características físicas e comportamentais. Mas, como vimos, não são elas e nem as células que estão no controle. Elas apenas produzem o ser humano.
Fica evidente que o que está no controle da nossa saúde e bem estar são as nossas crenças, visões de mundo e atitudes (pensamentos). O modo como pensamos passa a ser entendido como determinante para a conversão da química que é liberada no corpo.
Assim, pensamentos tóxicos, fruto de ignorância, medo, ansiedade, angústia, ressentimento entre outras emoções do stress, liberam potencialmente químicas tóxicas na corrente sanguínea que vão impactar os genes e, consequentemente, a produção de proteínas. Ao mesmo tempo, pensamentos saudáveis, fruto de conhecimento, coragem, paciência, gratidão, perdão, amor entre outras emoções do bem estar, liberam potencialmente químicas saudáveis na corrente sanguínea.
A conclusão final é, portanto, a de que se mudamos as nossas crenças, mudamos a nossa biologia.
Comentário final
Atualmente, a epigenética está sendo mais amplamente reconhecida, inclusive dentro da própria comunidade do Projeto Genoma. Para quem se interessar mais pelo assunto, recomendo três leituras de artigos científicos. Esses artigos corroboram a pesquisa inicial de Bruce Lipton:
- Genetic Factors Are Not the Major Causes of Chronic Diseases de Stephen Rappaport;
- Blame Genetics? ‘Flawed Genes’ Cause Less than 1% of All Diseases de Elizabeth Renter;
- Rethinking Genetic Determinism de Paul Silverman.
Então o foco se vira para as nossas crenças e o nosso estilo de vida. O foco se vira para uma vida vivida predominantemente com ou com diminuição de stress. O stress é primordialmente o controlador das doenças do corpo através da mutação genética, chegando a 90% das causas que levam as pessoas à uma consulta médica. A resposta para isso está nos remédios nas farmácia?
Para Platão, bem como para Bruce, não. Para eles, a resposta está no modo como conduzimos nossas vidas. Nosso próprio estilo de vida, nossa vida, é a farmácia (Platão se referiu ao pharmakon das “catarses” dos pensamentos) que produz o remédio, ou o veneno.
Assim, uma boa dieta, práticas de redução de stress, como esporte, relacionamentos pessoais e profissionais colaborativos, e meditação são atitudes fundamentais da fábrica interna de química saudável e, consequentemente, de bem estar.