Pacto pela educação e esporte na formação plena das crianças

A resiliência é um dos aspectos destacados pelo pacto entre Educação e Esporte, como no exemplo do maratonista Vanderlei Silva.
A resiliência é um dos aspectos destacados pelo pacto entre Educação e Esporte, como no exemplo do maratonista Vanderlei Silva.
Se gostar, compartilhe.

Nesta sexta-feira, acompanhei o debate da mesa “Educação e Esporte” na programação do Pacto pelo Esporte 2021. Durante o evento, uma frase me marcou:

O poder transformador do esporte é algo ainda pouco conhecido por todos. Nós aqui sabemos. Porém, muitas vezes o diretor da escola, o coordenador pedagógico e mesmo os secretários de educação pública não sabem isso ainda”, afirmou Vanderson Berbat.

Mesa de debate “Educação e Esporte”

O debate contou com a mediação do judoca Flávio Canto. Entre os debatedores, estavam a campeã mundial de ginástica Daiane dos Santos, a VP de Relações Governamentais e Comunicação da Eduxe, Cláudia Romano, o diretor do Instituto Península, Vanderson Berbat, e o presidente da Mastercard Brasil e Cone Sul, João Pedro Paro Neto.

Em suma, os principais pontos do debate foram:

  • Comparação com o modelo americano universitário de integração esporte e educação
  • Desenvolvimento de habilidades físicas e socioemocionais: valores, fisiologia, motricidade e cognição
  • Transferências dos valores aprendidos nas atividades na quadra, no campo ou no tatame, para a vida pessoal e profissional
  • Natureza da disciplina Educação Física no currículo escolar: entre a recreação e a aprendizagem

Modelo de gestão do Esporte universitário americano

Para Daiane dos Santos, o esporte é uma grande ferramente educacional “para desenvolver o ser humano como um todo”. (Desenvolvimento pleno sobre o qual eu escrevi em artigo anterior do Blog intitulado “O educador casca-grossa: mindfulness e Jiu-jitsu na escola“). Ela relatou sua experiência no Centro de Desenvolvimento Olímpico de Curitiba e ressaltou que cresceu não apenas nos índices quantitativos e performances de sua modalidade. Mas principalmente teve ganhos qualitativos, como o conhecimento e a prática de valores de formação do caráter, a disciplina e o foco nos treinos e nos estudos, resiliência e confiança nos colegas e professores, a melhoria do conhecimento formal pelos estudos universitários e o pertencimento cultural.

Com efeito, a particularidade que ela vivenciou com a equipe olímpica em Curitiba reflete o modelo de integração universitária entre Esporte e Educação nos Estados Unidos. João Pedro Paro Neto estudou nos Estados Unidos. Ele destacou como lá já há o amadurecimento da visão de que o esporte é fundamental para a transferência dos valores do esporte para o ambiente corporativo dos negócios. Posteriormente, por vídeo, o nadador olímpico Gustavo Borges corroborou a afirmação de Daiane. Ele destacou o Esporte Universitário norte-americano e como esse modelo objetiva o progresso do esporte educacional para o esporte profissional.

Entretanto, no Brasil, esse caminho é mais tortuoso. Quando ocorre integração entre o esporte educacional e o esporte profissional, os clubes de alto rendimento são os protagonistas, fazendo parcerias com as universidades visando aumentar o número de competições e oportunizar a formação para a vida profissional.

Habilidades físicas e socioemocionais

Flávio Canto destacou o lugar do Esporte na BNCC (Base Nacional Comum Curricular). Com efeito, ele enfatizou como a jornada no esporte é necessariamente uma jornada de evolução socioemocional. Isso ocorre na aprendizagem com as vitórias e as derrotas, o trabalho em equipe, o esforço nos treinamentos entre outros.

Em seguida, Vanderson Berbat apontou para o fato de que, na BNCC, a Educação Física faz parte da grade curricular da Educação Básica. Ele lembrou, inclusive, que a oferta é para duas vezes por semana. É preciso uma integração entre as competências e atitudes das áreas de Linguagens, como Educação Física e Português, com as outras áreas. Para Berbat, uma polêmica de arbitragem pode ser muito bem explorada para abrir um debate sobre valores com os alunos.

Do mesmo modo, é preciso trabalhar os valores com intencionalidade. Ele citou o exemplo do maratonista Vanderlei da Silva na Olimpíada da Grécia em 2004. Vanderlei estava liderando a prova quando foi interrompido por um espectador, que o agarrou perto da reta final da prova. Mesmo assim, o atleta brasileiro terminou em terceiro lugar. Aquele fenômeno é um exemplo de resiliência e intencionalidade que pode ser trabalhado junto aos alunos.

Educação Física no currículo escolar: entre a recreação e a aprendizagem

Para Berbat, atualmente, a Educação Física escolar ainda é vista por muitos exclusivamente como um momento de recreação: brincadeiras com a bola solta e queimada, por exemplo. Esse fato acaba excluindo o poder da Educação Física de promover a aprendizagem. Para ele,

A Educação Física tem o objetivo em si de contribuir com o desenvolvimento integral do ser humano, em questões de valores, fisiológicas, motoras e cognitivas.

Assim, basta lembramos que cerca de 65% do tempo de uma criança na escola é sedentário, sentada na carteira. Por outro lado, uma criança ativa aprende mais. A criança em movimento, ativa, está se ajudando em relação ao seu desenvolvimento socioemocional e cognitivo.

Por fim, entendo que a mesa de debate “Educação e Esporte” na programação do Pacto pelo Esporte 2021 coloca o esporte como fundamental no PPP (Plano Político Pedagógico), particularmente em tempos de pandemia e fechamento físico das escolas. Vamos nos movimentar, mesmo que seja de casa.

By Beto Cavallari

Professor no Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGA) e no Departamento de Graduação em Ciências Sociais Aplicadas na Unimar. PhD em Filosofia pela Columbia University. Mestre em Filosofia pela Columbia University. Mestre em Educação pela Unesp/Marília. Especialista e Bacharel em Administração de Empresas.