Neste artigo, apresento a filosofia da cura de Joe Dispenza, neurocientista e quiroprático, que sofreu um sério acidente de bicicleta e decidiu se curar em casa através da potência do seu pensamento. Vamos ver o desafio de encarar a si próprio bem como os princípios que as pessoas que praticaram a autocura têm em comum. Por fim, veremos como a filosofia da cura é uma filosofia da aprendizagem centrada no trabalho do cuidado de si.
Joe Dispenza tem uma história de cura pessoal incrível. Primeiramente, Joe é neurocientista com experiência em bioquímica e quiroprática. As suas pesquisas e estudos concentram-se nas funções cerebrais e imagética, longevidade, formação da memória e aprendizagem.
O que marcou a sua história foi um grave acidente de triathlon, enquanto competia no ciclismo. Ao fazer uma curva, no trajeto da prova, ele foi atingido por trás por um Ford Bronco a cerca de 90 km por hora. Ao ser lançado ao solo, partiu seis vértebras da coluna espinhal. Essas vértebras quebradas pressionaram a medula espinhal, fraturando o arco pelo qual as medulas passam.
No hospital, foi-lhe dito para passar pela cirurgia denominada de “Harrington Rod”, isto é, um procedimento radicalmente intrusivo que consiste na colocação de uma vareta longitudinal na espinha. Acima de tudo, o prognóstico estava claro: paralisia, e Joe nunca mais andaria com as próprias pernas.
Filosofia da cura
Todavia, em que consiste a sua filosofia da cura? Joe faz parte da linhagem de cientistas espiritualistas da ciência quântica e das novas ciências, como a neuroplasticidade e a epigenética (Novas ciências sobre as quais eu escrevi em um outro artigo do Blog, intitulado “Duas meta-explicações para melhor lidar com o cuidado de si“). Assim sendo, para eles, nossas percepções, emoções, crenças e atitudes tem a primazia na reescrita da nossa realidade, inclusive do nosso código genético, abrindo a possibilidade de regeneração guiada ou autocura.
Por isso, Joe afirma que a nossa personalidade cria e molda a nossa realidade pessoal. Conforme ele diz, isso significa que,
O grande hábito que temos que mudar é o hábito de sermos nós mesmos.
O que está por trás dessa afirmação é justamente a crença, pautada em estudos e pesquisas, de que podemos curar a si próprio, a potência da autocura. Voltando ao acidente de Joe, ao ser informado sobre a cirurgia de “Harrington Rod”, ele tomou a decisão de ir embora do hospital e se autocurar em casa apenas com o pensamento.
Foi um processo difícil de seis semanas, tentando dominar os meus pensamentos e fazer com que a minha mente fizesse o que eu queria, visualizando um plano de cura em vez de um futuro numa cadeira de rodas.
Joe conta que o processo foi frustrante no início, mas, à medida que ele praticava continuamente, começou a notar sinais de melhora e cura. Isso deu a motivação emocional necessária para continuar
com as suas visualizações positivas de cura, que, eventualmente, levaram a uma recuperação total.
Após alcançar sua cura, e voltar a andar sem a necessidade de passar por cirurgia, ele começou a investigar mais profundamente o fenômeno do poder do pensamento (percepções, emoções, crenças e atitudes) na cura. Ele viajou por dezenas de países em busca de pessoas que desenvolveram com sucesso a autocura. Aliás, à isso, ele chama de “remissões espontâneas”.
Os resultados dessa pesquisa estão nos dois primeiros livros publicados por Joe Dispenza. O primeiro foi intitulado, “Evolve your brain: the science of changing your mind” (2007), e apresenta quatro princípios fundamentais adotados pelas pessoas que alcançaram a autocura.
- Uma inteligência superior inata nos concede a vida e pode curar o nosso corpo (Entregar-se)
- Os pensamentos são reais e podem influenciar diretamente no campo corpóreo-material (Atrair)
- Temos o poder de nos reinventar (Re-criar-se)
- Somos capazes de prestar tanta atenção nas coisas que perdemos a noção relativa de tempo e espaço (Manifestar)
A partir desses quatro pilares da autocura, expostos em seu primeiro livro, para criar a vida que queremos, Joe teve que lidar com a seguinte pergunta: como fazemos isso? Como aplicamos esses princípios? Então, surgiu o segundo livro, para lidar com essas perguntas. O livro foi intitulado, “Breaking the habit of being yourself: how to lose your mind and create a new one” (2012). Logo, trata-se de um livro complementar ao primeiro, no sentido de fornecer ferramentas necessárias para os leitores praticarem a mudança pessoal e se transformarem.
Após Joe desenvolver seus estudos, pesquisas e aplicações práticas iniciais, os resultados positivos de autocura em seus alunos e pacientes o levou a escrever o terceiro livro. Esse livro foi intitulado, “You are the placebo: making your mind matter“(2014). Nesse livro, Joe discute como a filosofia da cura se relaciona duplamente com a aprendizagem. Em primeiro lugar, a filosofia da cura é passível de ser ensinada e aprendida. Em segundo lugar, a filosofia da cura é, em si própria, uma filosofia da aprendizagem.
Filosofia da cura e a aprendizagem
De volta a base. A nossa personalidade cria e molda a nossa realidade pessoal. Essa afirmação está pautada no poder do pensamento (percepções, emoções, crenças e atitudes) na cura. Agora, observem esses dados: em média, temos entre 60 mil e 70 mil pensamentos por dia. Nesse caso, a grande maioria dos nossos pensamentos diários são os mesmos que tivemos no dia anterior, nos levando a fazer as mesmas escolhas e gerando os mesmos comportamentos. No final, acabamos criando as mesmas experiências e sentimentos.
À isso, chamamos paradigmas, ou programação mental, ou ainda crenças limitantes. Portanto, fica evidente a relação entre paradigma e aprendizagem na filosofia da cura.
Quando aprendemos algo novo, estabelecemos uma nova conexão sináptica no cérebro. O que significa dizer que aprender é estabelecer novas conexões no cérebro, desde o nível mais superficial até o ponto de quebrar com os paradigmas. Isso está presente na descoberta do Prêmio Nobel de Fisiologia de 2000 e professor da Columbia University, Eric Kandel. O professor Kandel descobriu que, ao aprendermos, mesmo que seja algo simples, dobramos o número de conexões cerebrais. Mas não é apenas isso…
As descobertas de Kendal também mostraram que caso essas novas conexões não sejam revisitadas e pensadas novamente, esses novos circuitos de conexões são podados em dias ou até mesmo horas após serem aprendidos. Por isso que aprender novas filosofias, teorias científicas, conceitos práticos ou práticas espirituais é importante, porém insuficiente para a aprendizagem na perspectiva da filosofia da cura. A pergunta de um milhão de suspiros é: o que fazemos com o que aprendemos?
Com efeito, Joe aponta para o movimento do pensar ao fazer e ao ser, no sentido de estabelecer uma vivência direta, o que chamo de uma uma presença presente, com aquilo que aprendemos para quiçá mudarmos um paradigma. Ela está pautada em alguns pontos sobre as novas conexões cerebrais e a nova experiência:
- aplicação da informação
- personalização da experiência com o conhecimento
- demonstração dos conteúdos e vivências
- modificação das escolhas e dos comportamento
Assim, é preciso reconhecer que há um trabalho de cuidado de si que move a aprendizagem do indivíduo em transformação, que vai das novas conexões cerebrais às novas experiências. Aqui, esse trabalho de cuidado de si foca justamente na aprendizagem enquanto cura, utilizando a aplicação da informação, a personalização da experiência, a demonstração dos conteúdos e as modificações das escolhas e dos comportamentos que culminam na nova experiência.
A aprendizagem como o cuidado de si
O aprender a pensar, fazer e, em última instância, ser novas versões de nós mesmos, quebrando paradigmas ou crenças limitantes, é fundamental no caminho da cura. Embora não seja tarefa simples. Pois, quando estamos tendo uma experiência, nossos cinco sentidos ficam plugados ao ambiente externo. Através da audição, da visão, do olfato, do gosto e do tato, vamos reunindo uma quantidade enorme de dados. Segundo Joe, esses dados inundam o cérebro e fazem com que uma aglomeração de neurônios se organizem em redes e padrões no neocórtex. Isso significa que o gatilho que é acionado aqui para tal vai reforçar determinadas teorias, conceitos e práticas, velhas ou novas.
Quando esses neurônios estão agrupados em uma rede, o cérebro libera uma substância química proveniente de uma outra parte. Por conseguinte, essa substância química é sentida como emoção e nomeada como um sentimento. Vejamos no exemplo da leitura de um livro. Ao lermos um livro sobre como parar de fumar, ou sobre liderança e inteligência emocional, armazenamos essas informações em redes e sentimos certas emoções, da ansiedade a insegurança.
Porém, apenas quando agimos sobre essas informações, aplicando-as e trazendo essas redes e as emoções à tona, através de um trabalho de cuidado de si, para transformação no escuro do subconsciente, é que equilibramos os nossos pensamentos com o nosso corpo. Isso significa mente e corpo em harmonia. Isso significa que temos uma nova experiência, mesmo antes do evento acontecer.
É justamente essa nova experiência que estabelece novas redes e padrões de conexão cerebral e, então, sentimos que estamos parando de fumar ou que somos um líder equilibrado. Do mesmo modo, para experiências afetivas e amorosas, sentimos nossa capacidade de amar ou sentimos compaixão. Nesse momento, ensinamos quimicamente ao nosso corpo o que a mente já aprendeu intelectualmente. Para a aprendizagem, contudo, é preciso o cuidado de si (como na prática da meditação ou Jiu-jitsu brasileiro) para podermos revisitar as informações e, no caso do corpo, repetir a experiência diversas vezes até a transformação.
É por meio da repetição que condicionamos a parte emocional do cérebro, isto é, o subconsciente, e o corpo a agirem em acordo com aquilo que foi aprendido intelectualmente pela mente consciente. É por meio da repetição que o corpo aprende a fazer algo tão bem quanto é realizado na mente. As informações aprendidas continuamente, então, passam a ser inatas, como uma competência ou um hábito, a funcionar automaticamente, formando um novo paradigma.
Exercício e meditação
Ação | Pensar | Fazer | Ser |
Posição externa | Filósofo | Iniciante | Mestre |
Posição Interna | Mente | Corpo | Alma |
Relação | Conhecimento | Experiência | Sabedoria |
Por fim, temos a relação pensar, fazer e ser em termos das posições externas do filósofo, iniciante e mestre e, ainda, das posições internas da mente, corpo e alma, culminando em relações do conhecer, do experimentar e do saber. Onde você se vê?
Para descobrir, é necessário justamente praticar exercícios espirituais, de autoconhecimento, para a autocura. Um desses exercícios é a simples reflexão filosófica sobre a finalidade da vida, nosso propósito, crescimento, aprendizagens etc., ou auto-reflexão. Outro, denominado mindfulness, é a reflexão enquanto prática da conscientização, isto é, a consciência sobre um pensamento ou emoção/sentimento que temos, para transformá-lo. Falamos bastante nesse exercício acima, neste artigo do Blog.
Assim, um exercício que podemos fazer para alterar nossa personalidade e, por conseguinte, alterar nossa realidade, é o seguinte:
- Investigue (observe) os seus pensamentos subconscientes que estão presos a experiências do passado. Isso pode ser feito agora… refletindo, meditando, observando, conscientizando-se… Torne-se consciente e perceba os pensamentos e os sentimentos que teve, sinta as emoções que lhe ocorrem ao pensar nisso. Lembre-se: vimos que esses pensamentos, sentimentos e emoções surgem diariamente durante o seu dia. Repita o exercício para perceber e se conscientizar dos diálogos internos que mantém consigo mesmo. Ao cuidar de si, escreva esses diálogos e, posteriormente, visualize a sua transformação, aprendendo sobre si próprio e se curando, ao resolver essas experiências do passada e deixando-as para trás.