Neste artigo, apresento a noção de manifestação, tornada popular com o documentário “O segredo”, ao mesmo tempo em que aprofundo o entendimento de que manifestar, seja abundância, felicidade, ou amor, é apenas uma das frequências da nossa consciência, pois há outras, inclusive mais abrangentes, como o entregar a si próprio àquilo a que estamos a nos transformar pela prática da manifestação.
Você sabia que o DVD do documentário “O segredo” (2006) vendeu mais de 500 milhões de cópias? Após o sucesso, veio o livro homônimo, O segredo, um best-seller automático de Rhonda Byrne. Hoje testemunhamos uma enormidade de livros e autores advogando a ideia básica d’O segredo: a escala pela qual usamos a nossa mente para criar a realidade ao nosso redor.
Tal ideia é a base para uma constelação de estudos, pesquisas e modelos metafísicos, de ciência quântica, espirituais, de autoajuda e de cura. Entre eles, citamos o Movimento Novo Pensamento, o Movimento Nova Era, a Lei da atração, e epigenética, a força vital, a manifestação, o pensamento positivo e a visualização. O que todos eles tem em comum? É justamente a ideia do poder da mente impactar a realidade, criando novas identidades de si, atrações, manifestações, visualizações, objetivos e crenças para a vida, criando sincronicidades, encontros, harmonias e unidades… para uma vida material, emocional, biológica e espiritual plena.
Entretanto, o espiritualista Michael Beckwith tem nos alertado recentemente que todas essas práticas relacionadas à manifestação e a Lei da atração contemplam apenas uma parte das frequências energéticas passíveis de serem organizadas nos movimentos de “revelação” e “crescimento”. Para ele, as ideias ao redor de “O segredo” constituem uma visão de mundo pela qual a vida é criada por nós, por meio da nossa mente. Com efeito, ele avança para uma visão de mundo pela qual a vida acontece através de nós, por meio da entrega espiritual.
Seguro de vida e garantia de viver: manifestação e entrega
Para Michael Beckwith, a manifestação é parte do movimento de conscientização do poder da criação pelo qual nos expressamos no mundo, de maneira livre, harmonioza e autêntica. Já a entrega espiritual está relacionada a conscientização de que há algo maior, um Todo (Mãe Natureza, Universo, Deus), pela qual as pessoas estão dispostas a se entregar para, justamente, garantir uma vida plena, com liberdade, harmonia, autenticidade e expansão da sua natureza intrínseca.
Ao mesmo tempo, para a maioria de nós, a vida está repleta de obstáculos pessoais, dificuldades materiais, relacionamentos abusivos… Contudo, um dos insights poderosos de Michael Beckwith está condensado na afirmação de que,
Os problemas que temos em um nível de consciência (consciousness) não existem em um nível superior de conscientização (awareness).
Esse é justamente o movimento de conscientização de que não estamos aqui apenas para manifestar-nos, para criar, para expressar-nos. A conscientização é a de que também estamos aqui como parte de uma Criação, de um Todo.
Ele cita o exemplo de uma pessoa que foi consultá-lo, dizendo que não queria escutar nenhum blá blá blá de perdão ou espiritualidade. Ela queria que ele a ajudasse a fazer com que o ex-marido pagasse a pensão devida à ela, para lhe dar uma segurança de vida. Para ir direto ao ponto, o trabalho que Michael desenvolveu junto a essa mulher foi no sentido de ajudá-la a realizar a possibilidade da troca da fonte de subsistência, do marido para algo maior, para a entrega ao Todo. Com a mudança da atenção (do paradigma, do programa mental limitante sobre as quais eu escrevi em artigo anterior do Blog intitulado “O segredo da mudança de paradigmas), a mulher cresceu espiritualmente, manifestou e atraiu um bom emprego, que lhe garante uma vida digna, livre e autêntica.
Nesse caso, algo precisava ser curado. E não era o ex-marido! Era justamente a percepção de vida da mulher, cuidando e amando a si própria, se conscientizando de que a felicidade vem do nosso interior (mudança interior).
Quatro estágios do crescimento espiritual
Michael ressalta que o seu modelo dos “Estágios do crescimento espiritual” (as quatro frequências de consciência) é apenas para efeito didático. Pois somos infinitos e há várias outras frequências energéticas na evolução espiritual. De qualquer modo, seu modelo contribui para o diálogo do desenvolvimento, das revelações e do crescimento espiritual.
Estágio do vitimar-se
É quando vivemos sob a crença de que algo exterior determina a nossa felicidade. Com efeito, esse algo exterior pode ser nossos pais, parentes, namorada, a sociedade, Deus, o diabo, a astrologia, enfim, algo está a nos punir.
A posição padrão de consciência nesse estágio é a de que aquilo que acontece com a gente não é nossa culpa, mas do outro. Essa consciência acomete uma boa parcela da população, inclusive pessoas que desenvolveram habilidades técnicas e são bem sucedidas em algum aspecto da vida.
Contudo, para outros aspectos, essas pessoas se esforçam tremendamente e nada “nunca dá certo”, provocando a atenção para residir e resistir naquilo que lhes falta, fazendo-as vítimas de suas próprias história e estória de vida na busca da felicidade.
Um exemplo marcante dessa consciência de vítima foi abordado na “Lei do reverso” ou “Lei do esforço invertido”, do filósofo Alan Watts.
Estágio do manifestador
É quando aprendemos sobre as leis do universo. Geralmente, é nesse estágio que nos conscientizamos sobre a nossa negatividade. Isto é, o fato de que largamos nossa atenção para residir naquilo que nos falta, naquilo que não queremos.
Com efeito, aprendemos sobre uma constelação de ideias e estudos metafísicos, de ciência quântica, espirituais, de autoajuda e de cura. Entre eles, citamos o Movimento Novo Pensamento, o Movimento Nova Era, a Lei da atração, e epigenética, a força vital, a manifestação, o pensamento positivo e a visualização. Em comum, aprendemos que o pensar são unidades de energia mental.
Nesse caso, reivindicamos o nosso poder imagético para criar um distanciamento com as forças exteriores. Exercitamos novas imaginações, novas percepções, novos palavreados, novos diálogos até mudar nossa realidade. É quando sentimos um alívio, dado pela conscientização de que a vida flui a nossa favor. Com isso, continuamos a atrair e a criar vizualizações no sentido de mudar paradigmas ou programas mentais limitantes. Enfim, transformar a si próprio.
Um exemplo marcante é a filosofia da experiência do filósofo John Dewey, baseada na liberdade pelo poder criativo do indivíduo na democracia.
Estágio do entregar-se
É quando a manifestação real e profunda acontece. Pois uma coisa é aprender e dominar o entendimento sobre as leis do Universo, a atração e a manifestação, por exemplo, para modificar e criar novas realidades. A outra, é o trabalho árduo e corajoso de revelar a nossa alma para nós mesmos, fazendo-a emergir.
É nesse estágio que passamos a estar preparados para uma entrega profunda para aquilo ao qual estamos a nos transformar. Isso significada que não se trata apenas de mudar uma realidade ou alcançar algo (um bom emprego, um casamento feliz, uma cura, dinheiro etc.). Porém, trata-se de uma transformação profunda interna (manifestação real) baseada na entrega ao Todo, na confiança dos aprendizados e movimentos exercitados na manifestação e na visualização.
Nesse caso, passamos a canalizar a fluidez da onipresença e omnipotência da Vida, permitindo-a através de nós, pois percebemos que ela acontece por cima e por baixo de nós. Com isso, sustentamos a crença de que a Vida não se contradiz, não nos compromete. Mas é abundante e suficiente, com infinitas possibilidades de vida, de benção, energia, beleza, bondade e amor. O que manifestamos e visualizamos são extensões da nossa alma, e a liberdade que permite essa conexão é a fonte de felicidade.
Um exemplo marcante é a noção de pharrésia do filósofo Platão, que significa a coragem de examinar a própria alma e dizer a verdade sobre os achados de tal investigação.
Estágio da conexão
É um estado de ser, no qual o sentido de separação entre o ser e o Universo se dissolve. É quando nos tornamos Um com o Todo. Nesse caso, nos tornamos conscientes de que somos uma emanação do Universo. Assim como um raio de luz solar é uma emanação do sol e a onda é uma emanação do oceano. Tornamo-nos conscientes de que somos uma emanação, isto é, detemos as mesmas qualidades do Universo, sejam elas quais forem: Deus, Natureza, Belo, Bom entre outros.
É uma presença que nunca se faz como ausência. Por isso não é preciso necessariamente nem atraí-la e nem manifestá-la, pois ela é omnipresente. Michael menciona o exemplo do sentimento de Unicidade que podemos sentir ao meditar. Isso por ocorrer, para alguns, por alguns segundos, ou minutos. Pode ocorrer por algumas horas, para outros. Pode, inclusive, ocorrer por períodos de tempo.
De qualquer modo, uma vez que a experienciamos, nada se equipara a isso. Assim, dilui-se o sentimento de desapego, por um lado, e fortalece-se os sentimentos de gratidão, abundância, colaboração, felicidade entre outros.
Um exemplo marcante é a teoria da emanação de Plotino, filósofo antigo principal responsável pela preservação da filosofia de Platão no Ocidente.
Avaliando o nosso movimento pelos estágios de crescimento
Por fim, é importante perceber que o movimento pelos estágios de crescimento não é linear e unidirecional. É mais um vai-e-vem, um puxa-empurra, com o propósito de crescimento, revelação e evolução espiritual.
Nesse sentido, pelo menos três referências servem para refletirmos sobre tal movimento. Brevemente:
- Sócrates, com o adágio, “conhece-te a ti mesmo”, nos mostra que é preciso um trabalho minucioso e cuidadoso de auto conhecimento para, quiçá, conhecermos nossas frequências energéticas.
- Ken Wilber diz que quando vemos um modelo de crescimento, geralmente julgamos estar em um estágio acima daquele em que nossas energias realmente estão vibrando.
- O “efeito Dunning-Kruger” estuda o fenômeno de como as pessoas mais ignorantes sobre determinado assunto se consideram extremamente inteligentes.
O recado é sutilmente simples. Somos seres de imanência, pois atraímos, manifestamos, criamos nossa própria realidade, inclusive nossos propósitos (finalidades) de vida. Ao mesmo tempo, somos seres de transcendência, de emanação, originados de um Todo maior. Outro recado simples: conscientize-se sobre si próprio e não superestime o seu crescimento espiritual.
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