Neste artigo, discuto os desafios relacionados a transformação da nossa autoimagem: somos capazes de ensinar o nosso corpo e mente a criar a nossa autoimagem para a nossa autorealização? Para isso, veremos uma das bases metafísica/científica para a mudança da autoimagem, passando pelo autoconhecimento na quebra das crenças limitantes. Por fim, veremos, particularmente, a questão do mindfulness para o autoconhecimento dos professores, diante dos desafios da pandemia na sua prática profissional e na vida de um modo geral.
Enquanto professor, você acredita que é capaz de ensinar o seu corpo a como ele deve acolher as emoções? Na mesma linha, você acredita que é capaz de ensinar a sua mente a como ela deve sentir as emoções ou como ela deve pensar sobre certas situações? Pergunto, pois, no mindfulness, quem ensina o outro é aquele que primeiro aprende a fazer consigo mesmo.
Vamos contextualizar as perguntas acima com acontecimentos traumáticos, na vida pessoal, familiar, afetiva, social ou profissional: uma decepção, uma perda súbita, uma traição, um conflito ou uma pandemia com impactos na sala de aula. Todos esses eventos são grandes indutores de emoções, que trazem sentimentos e pensamentos à mente, formando paradigmas ou crenças imitantes, que, por sua vez, moldam nossa autoimagem, nossa personalidade e, consequentemente, nossa realidade.
Portanto, para uma pessoa em stress, ao ser perguntada, no presente, “Como você está?”, vai geralmente responder com referência a alguma dessas experiências estressantes do passado, que a modificou profundamente. Isso significa que a pessoa vive o passado no presente, uma vez que o fluxo da vida empoçou e ela não conseguiu mais se transformar (transformar a sua própria imagem e sua realidade) a partir de uma experiência traumática.
Em outras palavras, sua autoimagem é fruto daquilo que foi criado no passado. A criação dessa autoimagem utilizou como matéria prima todas as emoções, sentimentos e pensamentos ligados à certa experiência estressante do passado. Caso ela não se transforme, essa imagem negativa vai se empoçando na pessoa em forma de doenças do corpo, vícios do hábito e transtornos socioemocionais.
Entretanto, se você acredita no poder da mente para influenciar a sua personalidade e o seu corpo negativamente, com base em experiências do passado, então você também deve acreditar no poder da mente para curar a sua autoimagem e o seu corpo para o futuro. Com efeito, as perguntas acima estão justificadas. Pois precisamos aprender a como ensinar o nosso corpo a como ele deve acolher as emoções. Isto é, precisamos aprender a como ensinar a nossa mente a como ela deve sentir as emoções ou como ela deve pensar sobre certas situações com a finalidade de transformar paradigmas ou crenças limitantes.
Isso pode ser feito através da atenção ao cuidado de si, mindfulness, meditação, leitura filosófica, Jiu-jitsu entre outras práticas. Porém, antes de falar das práticas ou exercícios espirituais do cuidado de si, vejamos alguns elementos da base metafísica para mudar a autoimagem.
Base metafísica e científica para mudar a autoimagem
Primeiramente, há diferentes bases para o aspecto metafísico da crença na mudança da autoimagem. Entre eles, conhecimentos antigos do Egito, da Índia, da China, da Grécia antiga, da Idade Média e da contemporaneidade, como a ciência quântica.
Com base na ciência quântica, a nova ciência da epigenética tem sido aplicada no healing (cura). A epigenética, também chamada de “Biologia da Crença“, afirma o poder da mente sobre a matéria: pensamentos produzem químicos no corpo, chamados emoções, que afetam a nossa saúde. Acima de tudo, bons pensamentos geram boas químicas, que geram boas emoções, que geram boa boa saúde, que geram uma personalidade saudável e uma realidade harmoniosa e abundante. Isso significa que se criamos as condições para nosso corpo adoecer, também temos o poder de criar as condições para nos curar.
O pioneiro da epigenética, o biólogo e espiritualista americano, Bruce Lipton, vem analisando a interação entre mente e corpo e os processos pelos quais as células recebem informações. A tese central é a de que os genes e o DNA não controlam nossa biologia, como afirma as teorias da genética. Em vez disso, eles provaram que o DNA é controlado por sinais externos à célula, isto é, sinais do ambiente. Entre esses sinais estão inclusive as mensagens energéticas, transformadas em químicas no corpo, que emanam de nossos pensamentos. Esse conhecimento é a base da nova ciência da epigenética.
Nesse caso, aprendemos que através dos nossos pensamentos, podemos modificar cada gene em nosso corpo simplesmente modificando o modo como respondemos aos desafios da vida cotidiana. Com efeito, o papel de que somos “vítima” dos nossos genes, da nossa hereditariedade, dos nossos ancestrais, vai dando espaço para o papel do criativo cultural, particularmente na criação da nosso autoimagem para mudar a realidade.
Dois experimentos corroboram as premissas da Biologia da Crença. Muito resumidamente, eles consistem no seguinte:
- Experimento realizado por Bruce Lipton com células geneticamente idênticas separadas em três cultivos diferentes. Cada cultivo recebeu uma química diferente, representando o ambiente externo. As células de cada cultivo se desenvolveram conforme a química/ambiente externo.
- Experimento realizado por Masaro Emoto com arroz e moléculas da água. Neste último, cada pote de água recebeu uma mensagem externa diferente. Os cristais da água se modificaram esteticamente conforme a qualidade da mensagem.
Nesses casos, os sentimentos e os pensamentos externos modificaram esteticamente a forma das moléculas de água, de acordo com a qualidade da energia do ambiente. Para o nosso ponto, a máxima, “conhecimento em si próprio é poder”, uma vez aplicada ao autoconhecimento, significa que o amor ou cuidado de si na atividade de autoconhecimento é o poder de mudar a minha imagem e, por conseguinte, mudar a minha realidade.
Mindfulness na escola
Como disse, o autoconhecimento pode ser feito através de mindfulness, meditação, leitura filosófica, Jiu-jitsu entre outras práticas ou exercícios espirituais do cuidado de si.
No caso específico dos gestores escolares e dos professores, a atual crise da aprendizagem passa pela qualidade da relação entre professor e aluno na aprendizagem. Com o aprofundamento dessa crise, com os impactos da pandemia do covid-19 na Educação, temos visto uma maior consciência acerca da aplicação de técnicas para o desenvolvimento da aprendizagem socioemocional entre gestores, professores e alunos. Particularmente, o termo mindfulness na Educação emerge como uma resposta à crise da aprendizagem.
Afinal, o que é mindfulness? De modo breve, o termo pode ser traduzido por “atenção plena” ao presente. Isto significa, justamente na relação com o ambiente e os desafios da vida cotidiana, prestar atenção (observar) as nossas emoções, sentimentos, pensamentos e hábitos, visando o autoconhecimento como meio da criação da nossa autoimagem do futuro e do bem estar existencial duradouro (realidade).
Assim, o desafio que temos à frente é o do cuidado de si, prestando atenção em nós mesmo, em relação a um Todo maior. Porém, porque chamamos isso de “desafio”? Vejamos um dado interessante. O professor Jordan Poppenk, do Departamento de Psicologia na Queen’s University no Canada, publicou um artigo contendo os resultados de uma pesquisa que revelou a quantidade de pensamentos que uma pessoa tem, em média, durante o dia. São cerca de 6 mil pensamentos por dia (Há outros estudos que apontam que podemos chegar a 60 mil pensamentos no dia). Qual é a importância disso?
Dentre esses milhares de pensamentos, incluindo os sentimentos, a grande maioria ocorre no subconsciente, de modo automático. Isto é, são pensamentos e sentimentos que não prestamos atenção. Bruce Lipton os chama de crenças limitantes, ou programas mentais limitantes. Eles não são inicialmente originados pelo próprio indivíduo. Ao contrário, eles são exatamente a herança acumulada dos hábitos, opiniões e sistemas de crenças de outras pessoas, geralmente nossos pais, avós e pessoas do círculo social. Em outras palavras, são uma enormidade de hábitos que orientam a nossa vida, desde os nossos hábitos alimentares até nosso estado emocional e a qualidade dos nossos pensamentos.
Nesse caso, particularmente durante a idade dos 0-7 anos é que essas crenças são passadas para as crianças. Daí a importância da qualidade das relações socioemocionais nesta faixa-etária, como foi muito bem exaltada no documentário “O começo da vida”. Daí o impacto da introdução do mindfulness na escola, pois ele tem a potência para modificar o modo como as pessoas estão em sala de aula e no portão da escola, com resultados não apenas socioemocionais, mas cognitivo. Isto é, o humor, tom de voz e (des)equilíbrio emocional de pais, gestores, professores e alunos influenciam a aprendizagem.
Portanto, introduzir mindfulness na escola significa, na verdade, a criação de um ambiente (tempo e espaço) para que as pessoas possam estar mindful (em conscientização) diante dos desafios da vida, escolares incluído. Esse ambiente serve para práticas de meditação, esportes e leituras com a finalidade maior de:
- Prestar atenção aos sentimentos, pensamentos e hábitos no subconsciente para quebrar crenças limitantes
- Estabelecer o diálogo na resolução de conflitos
- Criar um ambiente anti-bullying
- Ensinar bons hábitos de alimentação, exercícios físicos e uso de aparelhos digitais
- Redução do stress
- Inibição do burnout
- Qualificar as relações emocionais, pessoais e familiares
- Aumentar a disciplina e a concentração em relação aos conteúdos curriculares
- Despertar o interesse nos conhecimentos
Tudo isso ajuda gestores escolares e professores a quebrar a transmissão dessas crenças limitantes para si e para os seus alunos. E isso é uma enorme resposta à crise de aprendizagem.
Palavras finais
Eis o desafio, porém, o propósito também, do mindfulness, particularmente na escola. Ele nos possibilita despertar e crescer.
É através de sua prática que podemos aprender a como ensinar o nosso corpo a como ele deve acolher as emoções.
É através de sua prática que podemos aprender a como ensinar a nossa mente a como ela deve sentir as emoções ou como ela deve pensar sobre certas situações com a finalidade de transformar paradigmas ou crenças limitantes.
Por fim, é através de sua prática que podemos mudar a nossa autoimagem do passado, criar uma autoimagem saudável para o futuro e, consequentemente, mudar a nossa realidade.
1 comment
Comments are closed.